segunda-feira, 10 de agosto de 2009

FÁBIO SOCIALIZA EXPERIÊNCIAS DO CURSO DE VERÃO EM FORTALEZA

RELATÓRIO DO CURSO DE VERÃO NA TERRA DO SOL
FÁBIO BRAGA DO NASCIMENTO

JULHO / 2009

Procedentes de 11 estados do Brasil, mais especificamente Ceará, Piauí, Maranhão, Sergipe, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Santa Catarina, Amazonas e Mato Grosso e mais o Distrito Federal e, ainda, da Itália e da Alemanha, 160 cursistas e 80 colaboradores juntaram-se em Fortaleza-CE, no período de 6 a 18 de julho de 2009, construindo o Mutirão do Curso de Verão na Terra do Sol. Neste nono ano de caminhada a temática trabalhada foi: “Jovens construindo uma nova realidade. É possível?”, tendo, como eixo articulador a organização popular enquanto semente da esperança na caminhada para a transformação.

Na primeira semana, orientados por Fr. Carlos Mesters, um dos fundadores do Centro de Estudos Bíblicos – CEBI, concentramo-nos no estudo do livro do Profeta Isaías (cap. 40 – 66), vendo o cativeiro do povo judeu, sentindo seu sofrimento. O povo perde as referências – o Templo, o Rei, a Terra – e canta sua dor infinita nas Lamentações de Jeremias. Acompanhamos a sua libertação com o renascer da esperança. Juntos, no coletivo, redescobre a ternura de Javé como pai, mãe, irmão, esposo. Assim, o povo de Deus mostra que é possível transformar o caos do cativeiro, em meio às ambigüidades e contradições. Três passos destacam-se, como decisivos, nesta caminhada: Memória, Natureza e Comunidade...Um pequeno grupo anônimo faz a memória renascer no interior do povo e tudo voltou...A natureza permanece na sua ordem...E, emerge a força do diálogo, da reunião...Há luz no túnel e o povo de Deus acorda para a plenitude da Luz!...
Na segunda semana, inspirados na Bíblia, e orientados pelo professor Manfredo Oliveira que leciona do ITEP (Instituto Teológico Pastoral) e na UFC (Universidade Federal do Ceará) vimos e sentimos os cativeiros de hoje na civilização do capital que tudo submete ao poderio do dinheiro, na lógica da mercantilização, destruindo a Terra e comprometendo o acesso de milhões de homens e mulheres às condições humanas de vida digna. Hoje, no século XXI, o sistema do capital gera uma população supérflua, descartável, acirrando contradições e desigualdades.
Neste cenário, focalizamos as juventudes, sobremodo as juventudes empobrecidas nas periferias da vida. E, junto com o Pastor da Igreja Luterana, Marcos Rodrigues, questionamos: Quais os cativeiros que acorrentam essas juventudes? Quais os ídolos que os jovens das periferias da vida adoram e veneram, não lhes permitindo viver um horizonte de liberdade e emancipações?
Ouvimos os cânticos das lamentações dessas juventudes que vivenciam experiências de sentirem-se despojadas, descartáveis e sem lugar. Elas lançam o seu clamor surdo nos cativeiros das exclusões e inclusões perversas, em meio às violências que lhe destituem a humanidade e a vida.
Durante o curso afirmamos que há luzes no interior do túnel e indagamos: Onde estão acessas estas luzes que indicam as saídas do cativeiro? Quais os desafios e perspectivas nos caminhos de construção da emancipação? E mais: Quais os horizontes de nossas lutas? Qual a nova realidade que queremos construir nesta saída dos cativeiros que hoje nos subjugam?
E, também, reafirmamos a força da organização, na perspectiva de um projeto popular para além do capital. Como o povo de Deus, na saída do cativeiro da Babilônia, foi preciso definir passos na caminhada:
• acreditar que outro mundo é possível e assumir a condição de sujeito na construção desse mundo;
• desenvolver a indignação, sendo capaz de desorganizar a ordem perversa estabelecida;
• resgatar a memória de nossas lutas e a força transfomadora de nossos mártires;
• exercitar a cultura da recusa, gerando novas atitudes que confrontem a lógica destrutiva do capital;
• construir um novo olhar sobre a vida, procurando tirar os véus e ver para além do que nos é dado ver;
• criar um pensamento alternativo das alternativas;
• estar atento aos processos de libertação dos povos da América Latina, na busca de alianças e da unidade latino-americana.
No período da tarde durante esses 12 dias do curso foi possível participar da Oficina de Espiritualidade, onde pude verificar que ela é uma dimensão da pessoa humana que traduz, segundo diversos credos e confissões religiosas, o modo de viver característico do ser humano que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental. Cada uma das várias religiões comporta uma dimensão específica a esta descrição geral, mas, em todos os casos, se pode dizer que a espiritualidade: “traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração” Francisco Tiago, Coordenador da Oficina.
Fazendo o fechamento do Curso de Verão 2009, um dos seus fundadores, o Pe. Luiz Sartorel nos mostra que esta caminhada é coletiva, sendo imprescindível articular as lutas específicas. É o esforço político de juntar os fragmentos em uma nova totalidade, tendo, no horizonte, a ruptura com a civilização do capital e a construção de um mundo novo, regido pela lógica da partilha, da solidariedade, do cuidado. É um mundo onde possamos “bem viver”, na harmonia com a Mãe Terra e na plenitude do amor...E esta é a Terra Prometida!...
Por fim, agradeço a Vice – Província do Recife que me proporcionou esta bela oportunidade de crescimento humano, onde foi possível ter contato com diversas experiências que buscam tirar os jovens do cativeiro atual e construir com eles uma nova realidade. Também minha gratidão a Vice – Província de Fortaleza que muito carinhosamente me acolheu nesses dias que lá fiquei, podendo assim ter uma bela convivência com todos nossos irmãos de caminhada.